quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Falha na comunicação


Ele não se sentia bem com o eu-falante dela, pois parecia ter vida própria. ligava e desligava a seu modo, muitas vezes sem se importar se estava sendo demasiado estridente ou inconveniente. dava vontade e ela simplesmente falava. falava tudo, punha tudo pra fora, de uma só vez. falava de cores, sons, tons, nuvens e ruídos dos quais ele não fazia a mínima ideia. e por isso as cores eram opacas, sem brilho, a melodia descompassada, e as nuvens não eram do tipo cirrus - formato delicado e sedoso - eram cumulonimbus - grandes e cinzas, nuvens de trovoada. pena ele não conseguir ver que são os tons acinzentados que te acolhem quando há tristeza, não conseguir achar o ritmo no descompasso e não perceber que são as nuvens cinzas e pesadas as que choram junto contigo e te confortam naquele fim de tarde chuvoso.
Mas a verdade é que ele só não gostava de seu eu-falante porque nunca havia provado do desassossego provocado pelo silêncio ensurdecedor dela.

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